'Na Moral' invade privacidade de moradores do Copan, em SP

Síndico cedeu imagens de câmeras sem comunicar condôminos

“Vale invadir a privacidade de pessoas para discutir o tema na televisão? Foi isso que o 'Na Moral', da Globo, fez.

A atração de Pedro Bial exibirá um quadro com imagens das câmeras do elevador do Copan, colosso do centro de São Paulo, com 1.160 apartamentos, projetado por Oscar Niemeyer, nos anos 1950.

O programa teve acesso às gravações destinadas à segurança. Mas os moradores não sabiam que as imagens chegariam à TV. 'Uma produtora deixou em casa um termo de autorização para eu assinar. Disse que gostaram de mim porque sempre apareço no elevador com bicicleta', disse a moradora Aline Cavalcante, 26, à Folha.

'Pensava que as câmeras no elevador serviam para a segurança, não como atração de TV', falou ela, que não liberou suas imagens.

Afonso Celso, síndico do Copan, autorizou gravações no interior do prédio e cedeu o material das câmeras ao 'Na Moral' sem o conhecimento dos moradores. 'Encaramos como um teste de segurança', justifica.

Segundo o especialista em direito imobiliário Marcelo Tapai, a conduta do síndico e do programa não foi correta. 'As imagens devem ser usadas só para a segurança.'

A Globo limitou-se a dizer que as gravações no edifício foram permitidas e que todas as imagens usadas foram autorizadas pelos envolvidos."

Esta é a íntegra de uma reportagem de Alberto Pereira Jr., publicada na edição de 12 de julho de 2012 do jornal Folha de S.Paulo.

É lamentável ver ao que se presta um profissional outrora considerado um respeitável correspondente internacional. Vejam o que disse Pedro Bial no programa de Fátima Bernardes em uma troca de figurinhas sobre suas experiências: “Eu meio que desci de um pedestal. O jornalista tem uma certa nobreza. As pessoas falam com a gente com um pouco de cerimônia. No BBB, eu abri mão disso e comecei a não me levar a sério em rede nacional, o que foi ótimo”. Tudo a ver com algo dito por ele, em janeiro deste ano, no programa Altas Horas, sobre sua atuação como apresentador do BBB: "Eu, pra domar ali o formato, pra me sentir a vontade eu tive que me despir da condição de jornalista e ser um Zé Mané ali junto com os outros..." Um Zé Mané que em busca de audiência para um programa intitulado “Na Moral” não discorda da invasão de privacidade de moradores de um edifício.

Encaramos como um teste de segurança justifica o cínico, digo, o síndico do colosso do centro de São Paulo, com 1.160 apartamentos, que autorizou gravações no interior do prédio e cedeu o material das câmeras ao 'Na Moral' sem o conhecimento dos moradores. E o que o tal teste de segurança provou foi que ela não é a prova de síndicos a serviço da Rede Globo. A Globo limitou-se a dizer que as gravações no edifício foram permitidas e que todas as imagens usadas foram autorizadas pelos envolvidos. Sim, as gravações no edifício foram permitidas pelo síndico e todas as imagens foram autorizadas pelos envolvidos; pelos envolvidos pelos métodos usados pela Globo.

Segundo o especialista em direito imobiliário Marcelo Tapai, a conduta do síndico e do programa não foi correta. E também segundo qualquer indivíduo que tenha um mínimo de noção do que seja correto e não seja desprovido de escrúpulos. Vale invadir a privacidade de pessoas para discutir o tema na televisão? Foi isso que o 'Na Moral', da Globo, fez. Na Moral! Globo e escrúpulos, nada a ver!