terça-feira, 26 de junho de 2012

Tese americana de cada país por si sai fortalecida do Rio

Para ex-ministra, multilateralismo se enfraqueceu em conferência, e a bola de promover iniciativas concretas para salvar planeta foi devolvida para a sociedade

A ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva chegou vestida de preto ao Riocentro para um debate com jovens na Rio + 20, do qual participaram o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, os economistas Muhammad Yunus e Jeffrey Sachs, e o fundador da CNN, Ted Turner. Marina disse que o processo multilateral foi enfraquecido, e que a tese americana de acordos genéricos, sem compromissos, prevaleceu, 20 anos depois da Rio 92. Para ela, a "bola foi devolvida para a sociedade".
- O que a sociedade fará com o sentimento de que os governos não estão à altura da crise? A senhora esteve em um evento com jovens, o que dizer para eles?
- Marina: A gente tem que ter um recado é para nós mesmos. Esse é um esforço que tem que ser de todos, de toda a Humanidade. Não é justo que a gente coloque nos ombros dos jovens o peso de dar conta do seu próprio futuro. Temos que ser o suporte dessa luta. É muito fácil termos feito tudo que inviabiliza o futuro e agora dizer para os jovens que, se querem um futuro, que lutem por ele. Acho que nós temos a responsabilidade de lutar com eles, não para eles nem por eles. O que a sociedade aprendeu aqui é que ela está com a prerrogativa, como sempre esteve. Em todos os momentos em que quase colapsamos, é para ela que a bola foi devolvida.
- A senhora vê a Rio + 20 como um momento em que a bola está sendo devolvida para a sociedade?
- Marina: Acho que o mais grave é a dissolução do processo multilateral nesse esforço de dar conta da agenda ambiental global. Por 20 anos quem insistia nessa tese de que cada um deveria fazer seu esforço internamente, com parcerias bilaterais, eram os EUA. Do ponto de vista prático, a tese americana prevaleceu. Todos fizeram um acordo genérico em torno de objetivos que cada um cumprirá dentro de suas próprias agendas internas.
- A senhora acha que o multilateralismo saiu derrotado? E qual será o caminho do movimento ambientalista depois disso?
- Marina: Eu não diria que ele foi derrotado. Diria que foi enfraquecido, e a tese americana, fortalecida. Cada país vai fazer seus esforços, mas adiou-se o compromisso de financiamento e decidiu-se que a governança não será forte como as que temos para outras questões, exatamente para fortalecer essa tese de que cada um fará internamente a sua parte, de acordo com os interesses da sua própria agenda, e não mais dentro de uma agenda de compromisso multilateral como vinha sendo perseguido por mais de 180 países que ratificaram a convenção do clima, da biodiversidade. Os EUA nunca ratificaram nenhuma dessas convenções e sempre insistiram na tese de que o certo era ter objetivos genéricos. Eles ficaram 20 anos sendo constrangidos e agora, pela primeira vez, saíram todos unidos assinando um texto em que prevalece essa tese. O interessante é que a sociedade agora, já não tem como fazer ruptura numa coisa dessa magnitude, não tendo como esperar por uma transição, porque o planeta já está no vermelho em 50%, terá que trabalhar urgentemente por uma mutação. As empresas, os cidadãos, terão que ver como traduzem isso para sua prática de vida, em todos os setores.
Esta é quase a íntegra de uma reportagem de Fernanda Godoy, publicada na edição de 22 de junho de 2012 do jornal O Globo.
Que coisa, hein! No dia 21, publiquei uma postagem cujas últimas palavras dizem que os EUA constituem um país que só se preocupa com ele mesmo. No dia 22, o jornal O Globo publicou uma reportagem intitulada Tese americana de cada país por si sai fortalecida do Rio.
Que país é esse? Um país que faz apologia da cooperação, quando lhe interessa, mas que, quando lhe convém, defende a tese de cada país por si. Que, em vez de pensar globalmente e agir localmente faz, exatamente, o contrário: pensa localmente e age globalmente, pois pensa apenas em si e explora os demais países. E que, apesar de tudo isso, tem uma imensa legião de admiradores que o considera algo a ser imitado. "Pai, perdoai-os ... eles não sabem que fazem". E haja perdão!

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