sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Ler sem pressa (I)

Ler sem pressa
Na contramão do mundo de 140 caracteres do Twitter, surge o slow reading, movimento que prega a leitura com calma
“A pressa é a alma da sociedade moderna. Mas, na contramão, surgem movimentos para propagar a calma. Ou melhor, a degustação de tudo que pode ser feito mais devagar. Assim como o fast food (comida rápida) teve o movimento reverso, o slow food (hábito de comer devagar), agora é a vez de desbancar o speed reading, ou leitura dinâmica. Bem-vindos ao tempo do slow reading – a leitura que é feita lentamente com o objetivo de valorizar a reflexão. O assunto acaba de chegar ao Brasil pelo livro ‘Slow Reading – os Benefícios e o Prazer da Leitura sem Pressa’, do canadense John Miedema. Mestre em biblioteconomia e ciência da informação, o autor acredita que o mundo de hoje pressiona por uma leitura rápida. Basta pensar no Twitter e seus 140 caracteres e em outras redes sociais que fazem sucesso à base da síntese. Ainda assim, a tese de Miedema tem agradado.
Depois do jantar ou no intervalo do almoço, o engenheiro João Victor Silva Antunes, 25 anos, adora pegar um livro para ler sem pressa de terminar. ‘Leio com muita paciência, às vezes relendo algumas páginas ou capítulos. Sempre tem algo que você não capta de primeira’, diz. É seu momento de desconectar. Mesmo processo da professora Glória Tüxen, 48 anos, que considera os livros uma fonte de descanso. ‘Lendo com calma você se dá conta da beleza das palavras escolhidas, da capacidade criativa do escritor e curte mais a história’, diz Glória, que tem sempre vários livros na mesa de cabeceira e costuma anotar as passagens mais significativas. Os defensores do slow reading dizem que a leitura dinâmica faz do leitor um turista, que pula de uma experiência a outra, percebendo apenas os destaques da narrativa, e não o todo.
Porém, no mundo corrido de hoje, nem tudo é para ser lido devagar. Para a professora de língua portuguesa da Universidade do Rio de Janeiro Maria Teresa Tedesco é o objetivo da leitura que define o ritmo. ‘A leitura lenta talvez seja mais propícia à meditação e reflexão enquanto a leitura rápida está mais ligada à funcionalidade’, diz. Assim, se o objetivo é relaxar, o jeito é desacelerar.”
Esta é a íntegra de uma reportagem de Luciani Gomes, publicada da edição de 2 de novembro de 2011 da revista Isto é.
A pressa é a alma da sociedade moderna, diz a primeira frase da reportagem, e faz com que a primeira coisa que me venha à lembrança seja uma estória que li na coluna de Paulo Coelho em um jornal carioca, pois tanto a frase como a estória associam pressa e alma. Embora relacionem as mesmas coisas, as duas associações produzem resultados completamente diferentes. Leiam a estória e tirem suas conclusões. Os grifos são meus.
“B. Chattwin conta que um explorador branco, ansioso para chegar logo ao seu destino no coração da África, pagava um salário extra para que os seus carregadores andassem mais rápido. Durante vários dias, os carregadores apressaram o passo. Certa tarde, porém, todos sentaram-se e depositaram seus fardos, recusando-se a continuar. Por mais dinheiro que lhes fosse oferecido, os carregadores não se moviam. Quando, finalmente, o explorador pediu uma razão para aquele comportamento, obteve a seguinte resposta: ‘Andamos muito depressa, e já não sabemos mais o que estamos fazendo. Agora precisamos esperar até que nossas almas nos alcancem’.”
Portanto, considerando que a sociedade seja o conjunto dos indivíduos nela existentes, interpreto as duas associações (a da frase inicial da reportagem e a da estória) como coisas completamente diferentes. Enquanto a primeira diz que a pressa é a alma da sociedade moderna, a segunda diz que a pressa faz com que a alma das pessoas delas se distancie. E, em minha opinião, muitas vezes a distância fica tão grande que as pessoas passam a agir como se não tivessem alma.

Andamos muito depressa, e já não sabemos mais o que estamos fazendo, diz a estória contada por B. Chattwin. “Lemos muito depressa, e já não sabemos mais o que estamos lendo”, creio que seja uma paráfrase aplicável a esta postagem. Portanto, não os apressarei para que dêem sua opinião, mas a minha é que a sociedade na qual sobrevivemos já perdeu sua alma e só a recuperará se as pessoas sentarem-se, depositarem seus fardos e recusarem-se a continuar participando dessa corrida insana na qual a vida foi transformada. Uma corrida que, se pararmos para pensar (!), poderemos perceber que nos levará a lugar nenhum.
“A pressa é a alma da sociedade moderna. Mas, na contramão, surgem movimentos para propagar a calma. Ou melhor, a degustação de tudo que pode ser feito mais devagar. E um desses movimentos é o slow reading – a leitura que é feita lentamente com o objetivo de valorizar a reflexão. O assunto acaba de chegar ao Brasil pelo livro ‘Slow Reading – os Benefícios e o Prazer da Leitura sem Pressa’, do canadense John Miedema.”
Mas se o assunto Slow Reading acaba de chegar ao Brasil pelo livro do canadense John Miedema, a leitura sem pressa aqui já é estimulada, há algum tempo, por blogs como os do português Manuel Pinheiro Guedes que usa um razoável intervalo de tempo entre as postagens, justamente, com o objetivo de valorizar a reflexão por parte daqueles que as lêem.
Apesar de ainda ter o que escrever sobre este assunto, encerrarei por aqui esta postagem, pois talvez exista alguém com pressa para ler algo novo neste blog, cuja postagem anterior ocorreu há uma semana. E há também a possibilidade de alguém mais apressado alegar que esta postagem ficou muito longa para o curto tempo que dispõe para leituras. Portanto, mais uma vez recorrerei ao método Jack – vamos por partes – e prosseguirei com este assunto na próxima postagem.

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